Vinicius Ribeiro - Arquiteto, Urbanista e Professor Universitário

A Cidade como Projeto de Vida

Uma abordagem Humana

Vinicius Ribeiro Artigos 18 views 3 min. de leitura

A Cidade como Projeto de Vida
  • Compartilhe esse post
  • Compartilhar no Facebook00
  • Compartilhar no Google Plus00
  • Compartilhar no Twitter

Kongjian Yu nos ensinou que a cidade não precisa lutar contra a água para ser segura e próspera - pode acolhê-la com inteligência. Sua obra, ao mesmo tempo poética e rigorosa, elevou as “soluções baseadas na natureza” do campo experimental ao repertório estratégico de metrópoles no mundo inteiro. Parques alagáveis, bacias de retenção, ruas-esponja e paisagens produtivas que filtram, retardam e devolvem a água ao ciclo natural formam um legado que integra ecologia, saúde pública e beleza cotidiana. É urbanismo que respira.

A inovação, porém, não nasce no vácuo. A intuição de Yu dialoga com décadas de reflexão de engenheiros, geógrafos, arquitetos e gestores brasileiros que já defendiam a recuperação de várzeas, recomposição de matas ciliares e a transformação das frentes d’água em espaços públicos resilientes. Em muitos lugares, a prática foi tímida e dispersa; faltaram escala, continuidade e governança. Ainda assim, o “DNA” da cidade-esponja esteve presente - de jardins de chuva a parques lineares - aguardando um projeto de cidade que conectasse peças hoje isoladas.

No Brasil, a base normativa para esse salto existe: o Código Florestal (Lei 12.651/2012) protege as Áreas de Preservação Permanente (APPs) justamente onde a água deveria respirar através de margens de rios, nascentes e encostas sensíveis. Cabe aos municípios transformar essa proteção em desenho urbano: planos diretores que definam faixas de inundação como parques e não como asfalto; códigos ambientais que troquem canalização por infraestrutura verde-azul; planos socioambientais que alinhem drenagem, habitação e mobilidade, priorizando soluções que reduzam risco e ampliem bem-estar. Em linguagem simples: cumprir a lei com projeto e com visão de futuro.

A literatura técnica é clara sobre o caminho; o desafio é fazer caber no orçamento, no cronograma e na política. É aqui que a boa teoria encontra a boa prática: indicadores de desempenho hídrico, mapas de risco, contratos por desempenho, manutenção participativa e um pacto intersetorial que una obras, operação e educação ambiental. Cidades mudam quando a sociedade mede, cobra e celebra resultados.

Por isso, este é um convite e um apelo. Aprendamos com o conceito que Yu nos legou e com as notícias que doem: enchentes que voltam, famílias que perdem, serviços que param. Cada cidade pode escolher entre repetir a tragédia ou desenhar a virada. Transformemos APP em parque vivo, sarjeta em jardim, valeta em corredor ecológico, obra emergencial em política permanente. A “Cidade como Projeto de Vida” começa quando devolvemos à água o espaço que é dela e devolvemos às pessoas a cidade que merecem. Que a próxima chuva encontre preparo, e não surpresa.

 

Fonte da Imagem: Kongjian Yu / Turenscape

  • Compartilhe esse post
  • Compartilhar no Facebook00
  • Compartilhar no Google Plus00
  • Compartilhar no Twitter

Deixe seu comentário aqui:

Cookie
Política de Cookies

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência ao navegar .

Leia mais