“Eu adorava sentar com minha cadeirinha na calçada”
Será que somente a cidade que vivo perdeu essa característica?
Vinicius Ribeiro Artigos 1237 views 2 min. de leitura
Essa simples frase tem muito significado para quem acredita que a qualidade de vida de uma cidade pode melhorar muito se as pessoas ocuparem as calçadas e os espaços públicos. Ela me foi dita por um idoso, junto com outra frase recentemente: “Caxias perdeu isso”. Parece coisa de cidade grande por que em pequenas cidades, esse costume é determinante para aumentar a convivência entre moradores e o nível de orgulho deles com a cidade.
Mundo afora, urbanistas e entidades como Gehl (2010), Speck (2012), NACTO (2014) e WRI (2016) estão dando suas contribuições. Aqui, falta nós. A visão de que o espaço público deve ser visto como de convivência e não apenas de passagem, acaba mudando um conceito secular, exigindo das pessoas novos olhares sobre o espaço público.
Em trabalhos profissionais, junto diversos conceitos para colocá-los em prática. Convirjo 7 (sete) estratégias fundamentais para o cidadão se sentir mais envolvido e satisfeito com o lugar onde ele convive, como: (I) Diversidade de uso, quanto mais eclética e multiuso melhor; (II) Fachadas ativas, ou seja, a fachada da edificação pode ser a continuidade do público ou vice-versa, ela pode ser a melhor propaganda dos produtos que estão dento da edificação; (III) Escala humana, através de estudo e comportamento dos usuários; (IV) Vitalidade urbana, fruto de estratégias para aumentar o grau de permanecia das pessoas no local; (V) Mobilidade “humana”, fruto da prioridade dos ciclos ativos e, principalmente, do pedestre.
Logo, uma quebra de paradigma: o comércio vai bem quando o pedestre caminha bem e não onde o carro estaciona bem; (VI) Áreas verdes e jardins urbanos, no equilíbrio entre o que nós construímos com aquilo que preservamos; e, (VII) Singularidade da rua respeitando a identidade e a história local. O conjunto desta tática tem gerado resultados surpreendentes para moradores, usuários e comerciantes, através da maior conivência, satisfação, qualidade de vida entre as pessoas, venda e troca de produtos.
Nossa cidade pode implementar essas estratégicas de forma pontual, segura e com poucos recursos. O elo de ligação é a calçada - ela pode ser um ótimo indicador para medir a cidadania de uma cidade. Além disso, precisamos de empreendedores público-privados dispostos a fazer diferente os quais entendam que o espaço público ligado a um negócio gera mais atratividade.
A memória do passado é um ótimo termômetro para sabermos o que perdemos sem nos darmos conta, ou o que ainda iremos perder com chances de poder recuperar. Isto é: a convivência, a reciprocidade e o pertencimento.